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Memórias...conversa com Sr. Evaristo

.  por Laís,

Entrando no clima das memórias literárias, encontrei outro texto que elaborei e que gostaria de compartilhar com vocês.

Como o anterior, esse também foi feito a partir de uma entrevista. Porém dessa vez coletiva.
Sendo mais direta... foi na sala de aula, com o avô de um amigo nosso. Sim, essa foi emocionante. Assim como o senhor, vários alunos deixaram algumas lágrimas rolarem.  Bom, acho que é melhor parar de enrolar e mostrar logo a memória. Espero que gostem!

Logo no começo da entrevista o seu Evaristo já tocou no assunto da Ponte Hercílio Luz, comentou que a não serem os barcos, a ponte era a única ligação que havia entre o continente e a ilha.

         Falou sobre um aspecto que mudou muito daquela época para os dias de hoje, os aterros, pois o mar antigamente batia no mercado público e chegava à baixada do Hospital de Caridade. Por esse motivo, o mercado público era onde entravam os barcos com os peixes, para o comércio.

         Aos 65 anos, se orgulha em contar que não sabe o que é provar de uma cerveja, cachaça, cigarro. Ressalta que sempre foi muito saudável, praticando exercícios físicos regularmente desde jovem e que “cigarro e bebida nem pensar”, nos falou que uma tacinha de vinho não faz mal a ninguém, mas insistiu que destilados NUNCA.

         A professora Fernanda então perguntou como era sua vida quando tinha nossa idade, ele então resolveu nos revelar sua infância.

         Seu Evaristo um pouco emocionado, mas não arrependido, nos contou que seu pai era alcoólatra, e que quando bebia se alterava e ficava muito explosivo, disse que qualquer motivo, era motivo de briga.

         Fugiu de casa aos sete anos, foi morador de rua até seus catorze anos, dormia no mercado público, enrolado em jornais, ao lado de bêbados, prostitutas, e tudo de ruim.

         Ressaltou que por ser “cabeça” boa, nunca entrou no mundo das drogas e no mau caminho.

         Quando Evaristo nos disse que na nossa idade era morador de rua, ouve um instante de silencio, de surpresa e ao mesmo tempo de admiração.

         Disse-nos que presenciou o vício do cigarro em sua própria família, e pior, com seu próprio irmão de 13 anos (na época), o viu pedir a um senhor bêbado o resto de seu cigarro “babado”, achou impressionante a necessidade de um cigarro para um viciado.

         Durante a entrevista, a cada ponto principal, seu Evaristo procurava achar uma lição, ou um motivo principal para nos aperfeiçoarmos nele.

         O Bruno então perguntou:
- Havia outras crianças que moravam com você nas ruas?

         Ele então respondeu que no mesmo ponto não, mas que havia um grupo muito grande de crianças no morro da “Caixa d água”. Apesar de muito pobre, ele as ajudava fazendo saladas de frutas com os poucos restos de comidas (que prestavam), essas frutas ele recolhia de um depósito que ficava nos fundos do mercado público.

         Vivia apenas da venda de revistas e jornais usados.

         Comentou que na época não havia eletricidade, era apenas na roda d água, onde era desviado o curso do rio para gerar a eletricidade.

         Logo depois o Fillipe perguntou como era o namoro antigamente, ele respondeu que “havia umas regrinhas”, comentou que agora é só “fico”, o que é muito perigoso, pois é uma idade muito especial e tudo o que é fácil é prejudicial.

        O Gabriel aproveitou também para perguntar se fora assaltado quando ele era morador de rua, respondeu novamente que naquele tempo não havia assalto e drogas pois era mais difícil, “o acesso não era tão fácil como atualmente, hoje há traficantes nas portas das escolas”. 
     
        No começo da entrevista ele revelou que havia trabalhado na força aérea, então Renato perguntou quanto tempo ele permaneceu lá. Respondeu de imediato que chegou em 1965 e saiu em 1995.

        Myriene pediu a fala, e perguntou como e quando começou o namoro com sua esposa atual, achamos muito engraçada sua resposta, pois, apostou com seus amigos duas caixa de cerveja se perdesse e uma caixa de guaraná se ganhasse o coração da jovem, revelou que todos tomaram um porre de guaraná.

        Seu pai morreu em seus braços com uma lagrima escorrendo em seus olhos, nos falou que não podemos guardar mágoas e ressaltou que “Não devemos julgar os outros, para não sermos julgados”.

         Fillipe, então mudou de assunto e perguntou qual era o meio de transporte terrestre, com risos, respondeu que eram os burros de cargas. Perguntou também qual foi o fato que marcou sua vida, ele respondeu que foi não entrar no mau caminho, no mundo das drogas.

         Perguntei se antigamente existiam fábricas na cidade,  fui surpreendida quando respondeu que não existiam, como não existem nos dias de hoje.

         Para terminar a entrevista professora Fernanda propôs duas perguntas a ele, “Qual foi sua experiência mais difícil e a mais gratificante”.

         Houve uma pausa antes da resposta, revelou que a mais difícil é não ter uma família unida, mesmo depois da morte de seus pais, gostaria que houvesse um entrosamento.

         Ficou muito emocionado contando sua experiência mais gratificante, ser avô. Não só ele, mas alguns alunos ficaram muito emocionados quando ele nos contou que viu seu neto, através de uma vidraça, lutar pela vida.

         Sua frase final em sua entrevista foi: “Vocês não imaginam o bem que faz um sorriso”.








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