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O Unicórnio Atordoado – Parte III (final)


Por Maria Luiza Rosa.

Então, o velho sábio Agostino começou a história tão esperada por eles:

- Muitos anos atrás, Unicórnios e Dunocórnios viviam em harmonia aqui na Terra Encantada.  Eram todos amigos, não existiam brigas entre eles. Porém, o líder dos unis, Billy Uno III era esquizofrênico. E uma de suas crises acabou com toda a alegria e amizade que rodeava a Terra. Em um surto, Billy matou seu melhor amigo, o líder duno, Luks Duno V jogando da cachoeira de caramelo após um piquenique celebrando 15º aniversário de amizade dos dois. Os habitantes, principalmente os dunos, que estavam completamente revoltados com o acontecido expulsaram Billy da Terra Encantada. Isso fez com que unis e dunos entrassem em guerra. Os dunos venceram e todos os unis foram obrigados a deixar suas casas. Porém, o sucessor de Luks, Mike Duno VIII, com pena das pobres criaturas agora sem terra, cedeu a eles uma parte da área da Terra Encantada, que praticamente não era usada, já que era muito grande e quase todos os moradores se concentravam no centro. Assim, foi fundado o Vale dos Unis, vizinho à Terra Encantada dos Dunos.

E, assim como a maioria dos unis, nosso jovem amiguinho aqui é descendente de Billy, e como aconteceu com todos os seus ancestrais, a terrível doença que condenou o povo Uni foi passada como uma maldição também para ele. A propósito, eu sei o seu nome, garoto. – disse Agostino - É Mark Uno, assim como seu pai, não é? Eu o vi crescer, assim como vi você. E essa é a história desse mocinho, senhores policiais. Mas falar disso me trouxe lembranças. E sua mãe, Marquinho? A Lucie? Por onde ela anda?

 - Primeiro: não me chame de Marquinho, por favor. E eu não sei onde ela está. Ela foi viajar há uns 5 anos e nunca voltou. Ela não quer saber de mim. Deve estar fazendo compras com aquele cabelo dela cheio de laquê. – respondeu Mark, com lágrimas nos olhos.
- Verdade? – perguntaram os dunos
- Sim.
- E você está com quantos anos agora, meu filho? – perguntou Agostino
- 16.
- Pobrezinho...
- Venha conosco, nós vamos te ajudar. – disse o Coronel Severino, sendo gentil pela primeira vez na vida.
- Tudo bem... – disse o uni quase chorando.

Parece que os dunos tocaram o coração do pobre Mark. Eles voltaram para o centro da Terra Encantada e foram direto para a Base Policial. De lá, o Uni foi encaminhado diretamente para a melhor psicóloga da cidade, Dra. Luzia Duno. Ele aceitou tudo sem reclamar, pois sabia que era o melhor para ele. Mark chegou no consultório e começou a conversar com a doutora:

- Bom dia, Mark! Meu nome é Luzia e eu vou fazer algumas perguntas pra você, tudo bem?
- Sim, tudo bem. – respondeu ele amigável
- Então, Mark. Como é a sua família?
- Meu pai morreu quando eu tinha uns quatro anos. Ele comeu uma maçã e ficou doente de repente. Então eu “morava” com minha mãe. Mas ela nunca estava em casa, então eu passava a maior parte do tempo sozinho em casa, sem amigos. E cinco anos atrás ela saiu em um cruzeiro pelo mundo e nunca mais deu notícias.
- Nossa! Coitadinho. E como você encara essas coisas que têm acontecido com você ultimamente? Em relação aos seus crimes...
- Eu me arrependo. Eu não queria ter feito nada disso. Mas eu simplesmente perdi o controle, eu queria me vingar dos dunos. Eu sinto como se eu estivesse inconsciente, ou que não era eu. Se eu pudesse voltar no tempo... – o Uni começou a chorar
- Acalme-se, Mark... Está tudo bem. Eu entendo o que quer dizer. Mas se vingar por que exatamente?
- Eu sempre achei que a morte do meu pai pudesse ter sido obra de algum duno por ele ser da polícia do lado do Vale Uni. Não tenho certeza de nada, mas eu sinto isso, entende?
- Sim, querido. Eu entendo. E você acha que se a sua mãe tivesse estado mais presente na sua vida você não se sentiria assim?
- Sim, eu acho. Eu gostaria que ela tivesse passado mais tempo comigo. Eu nunca tive ninguém.
- Entendo... Bom, nós vamos arrumar um jeito de falar com sua mãe. Enquanto isso nós vamos achar um lugar para você ficar provisoriamente, ok?
- Sim. Erm... Doutora...?
- Sim, querido?
- Muito obrigado. A senhora e todos os outros estão me fazendo muito bem.
- ... De nada, meu filho. – respondeu Luzia emocionada.

 
Mark ficou num quartinho próximo ao consultório da Dra. Luzia por alguns dias. Até que, numa manhã, ele foi acordado pela secretária dela:
- Senhor Mark, temos uma surpresinha para você!
- Surpresa?
- Sim! Me acompanhe, por favor.

Eles desceram pelas escadas de caracol e chegaram novamente ao consultório da doutora Luzia. Mark logo avistou uma figura familiar de costas:
- Ma-mamãe?
- Mark!


E lá estava ela de volta, Lucie, a mãe desnaturada de Mark. Ela vestia roupas de grife, mas de extremo mau gosto, jóias exageradas e realmente, o cabelo dela estava cheio de laquê. Ela estava feliz de ver o filho, embora não demonstrasse isso claramente.

- Como você está grande, meu filho!
- Onde você estava, mãe? Eu fiquei todo esse tempo sozinho. Olha como eu estou agora! Num consultório com uma psicóloga! Não faço ideia de pra onde vão me levar. E você se divertindo pelo mundo! Não tem vergonha de aparecer aqui?
- Mark, eu sei que eu errei. Perdoe-me! Mas você sabe, depois que seu pai morreu eu fiquei desolada. E não tínhamos mais dinheiro. Eu precisei sair para achar um meio de conseguir nos sustentar. E consegui! Ganhei muito dinheiro apostando, jogando em cassinos... Eu ia voltar de qualquer forma antes do fim do mês. Mas agora tudo vai se resolver, meu querido. A mamãe vai te ajudar.
- Como, mãe? Olha a minha situação!
- Calma. Eu tenho amigos que são médicos. Eu vou pôr você numa clínica e você vai ficar bom. E mesmo que você não aceite eu não vou mudar de ideia. Você vai e pronto! É o melhor pra você.
- Ele vai aceitar, minha senhora. – disseram os médicos – Ele está concordando com todos os tratamentos.
- Melhor assim – disse Lucie – E depois, Mark, nós vamos morar juntos de novo! E vai ser muito divertido, filho!
- Promete, mãe?
- Claro que prometo! Eu nunca mais vou te abandonar.
- Tudo bem. Eu vou
 

Todos comemoraram muito. Os crimes de Mark foram perdoados, já que todos reconheceram que ele estava doente e não podia responder por aqueles atos. Ele foi internado numa clínica a estava reagindo ao tratamento super bem. Tinha um comportamento exemplar. Mas um dia...

- Enfermeiros, levem os remédios de Mark Duno do quarto 503. Ele já deve ter tomado a primeira dose do dia. E por favor, depois procurem aquelas duas enfermeiras novatas. Elas sumiram. Devem estar matando tempo. Nosso superior não vai gostar nada de saber disso.
- Sim, senhor.

Depois de alguns minutos, os dois voltaram correndo:

- SENHOR! O PACIENTE NÃO ESTÁ NO QUARTO. AS DUAS ENFERMEIRAS ESTÃO DESARCORDADAS LÁ. ELE FUGIU!
- O QUÊ!?
 

Realmente, Mark havia fugido. E agora estava em alguma ilha bem distante, tomando água de coco e comendo camarões apreciando a vista do oceano. Dificilmente alguém o acharia lá. Mas os dunos não desistiram. E agora os unis estavam aliados a eles. Mas isso não importa agora. O que importa é que Mark conseguiu fugir, e provavelmente para sempre. Ele sempre foi muito esperto. Não é a toa que ele tenha conseguido matar seu pai sem deixar rastros.
 
                                                                                              FIM

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