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Um debate sobre aborto


por Júlia,

Enquanto vários alunos que foram atingidos pela greve de ônibus no início de junho, não puderam ir a escola, as salas se juntaram e como as disciplinas não estavam exatamente programadas, foi dado sociologia a todos, e para aquela aula estava programado um debate. Ele abordaria o tema aborto e seria problematizado com algumas perguntas feitas pelas alunas Beatriz Pereira Costa e Giulia Platt da oitava série C.

Foi um debate que me chamou atenção, sempre quis discutir o tema, infelizmente a turma não estava tão voraz assim e a maioria só deu sinal de vida quando as meninas pediram a ela para que falassem sobre sua opinião. Segurávamos plaquinhas escritas com: não, sim ou depende, da qual tínhamos de levantar obrigatoriamente em cada pergunta feita pela dupla. Lembro-me de levantar a plaquinha “não” em tantas das vezes, em quase todas, menos na primeira pergunta, que ia logo ao ponto questionando se eu era a favor da legalização do aborto ou não. Sim eu sou, e deixei isso claro, é uma questão social, que ainda tenho dúvidas, e respeito quem tem opinião contrária.

Quando levantei a mão para minha fala, me expressei sobre o que sentia sobre o papel da sociedade com isso. Penso na verdade que deveria o aborto ser legalizado em respeito a saúde social, por que tantas meninas e mulheres hoje o cometem e perdem suas vidas. Foco mais nas adolescentes, que são vítimas até da própria sociedade, que as pressiona, desde a família do pai do filho gerado que não apoia que o filho torne-se responsável pela criança, aos pais considerando muitas filhas que engravidam cedo como “vadias” ou “prostitutas” ao invés da educação do uso de preservativos e outros meios seguros para não engravidar.

Para mim não se trata tão a fundo do direito da mulher com seu próprio corpo, pois nisso está incluso o corpo de outro ser, não trato a vida de um bebê com insignificância, mas não acho que é pela repressão que se dá esse ensinamento. Vemos que realmente não da certo, pois a procura pelo aborto clandestino se intensifica cada vez mais. É um erro de muitos na verdade, achar que por uma pessoa ser a favor da legalização do aborto ela está proclamando ser a favor do aborto em si. Também não elevo minha opinião sobre o próprio aborto tão afundo, pois não estamos na pele das meninas ou mulheres que o cometem.

A professora também adicionou outra pergunta logo após das respostas geradas pela primeira, e essa digo eu, foi a mais interessante, não querendo é claro desvalorizar o trabalho das alunas. Ela nos questionou se pensávamos realmente que se as pessoas ao cometerem o aborto clandestino (e são prejudicadas por eles) vão ter acesso a tratamento e aborto gerados em um hospital. Claro que estas são de classe média baixa ou pobres e tendo acesso apenas ao SUS. Tenho compreensão sobre o assunto, e não podia dizer que sim genericamente, foi até difícil pensar a respeito.

Porém eu acho que a luta por uma saúde de qualidade são outras conquistas, e que tem de ser pressionadas pela sociedade para que o governo de atenção necessária. Cheguei a conclusão de que se mesmo a legalização do aborto não gerasse a respectiva resposta esperada (da diminuição das mortes causadas por ele), estaria na verdade apenas ressaltando a situação da saúde pública do país, o que o tempo e a política possam talvez (com muita esperança) melhorar, e até dar mais devida atenção aos problemas ligados ao próprio aborto.

Não sou da ideia de que pela legalização as pessoas irão realizar mais esse ato. Eu sempre achei que seria bom se este assunto fosse tratado com mais frequência para que houvesse mais conscientização das pessoas (principalmente jovens) a não cometê-lo quando por medo do aceitamento familiar, ou mesmo de um futuro sem oportunidades de estudo, ou por desvalorização humana, como as mulheres adultas que vão á clinicas para realizar abortos mesmo tendo como sustentar uma criança. O valor da vida é importante, já vi documentários em que este era tratado tão banalmente que chocava realmente aos telespectadores, não tratando apenas do menosprezo da vida de outro, porém também de sua própria.

É realmente triste chegar a esse nível, de insegurança, desrespeito, mas é real. Quis chegar a esse assunto no blog para que as pessoas entendam também sua duplicidade, pois na minha opinião a legalização do aborto não seria algo como banalizar a vida, seria algo como pressionar o estado para que houvesse uma ação contrária, que com a realidade exposta possa haver uma conscientização social a respeito da vida.

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