Pular para o conteúdo principal

Metrópolis de Fritz Lang e o expressionismo alemão da década de 1920

Por Beatriz Pereira

O expressionismo, movimento artístico surgido na Alemanha no começo do século XX, procurava expor os sentimentos, mágoas e emoções das pessoas, e não a visão da vida como algo inalterável. De acordo com Lotte H. Einsne (1985), “essa linguagem, carregada de símbolos e metáforas, permanece obscura de propósito, para que apenas os iniciados possam captar-lhe o sentido”. 

Fritz Lang e seu expressionismo conquistam gerações, e Metrópolis, um filme dirigido pelo mesmo, reafirma a reputação. Como grande parte da obra expressionista alemã, retrata as diversas mágoas da relação entre homem e máquina e da relação desigual entre homem e homem, da sociedade de uma forma incrivelmente artística. 

Metrópolisé um filme mudo de ficção-científica lançado em 1927, e retrata a cidade fictícia de Metrópolis no ano de 2027, que é dividida em duas partes. A parte superior para os que simpatizam com o empresário que manda na cidade, Joh Fredersen, e seus filhos, que supostamente seriam a “cabeça” da cidade; e a inferior para os trabalhadores, que são praticamente escravizados pelas máquinas, que seriam “as mãos” da cidade. 

Um dia, o filho desse empresário, Freder,acaba assistindo, por acaso, uma espécie de “culto” entre os trabalhadores. Maria, a suposta pregadora, fala que um dia um mediador entre as duas partes da cidade irá salvá-los de toda essa tortura. 

Freder apaixona-se por ela, que é jovem como ele e bonita, o que o faz perceber a situação no subsolo e começar a tentar ajudá-los. Joh Fredersen, acabou vendo as atitudes do filho por um buraco na parede com um olhar pejorativo, pede para o cientista maluco da cidade deixar sua mais recente criação, a mulher-máquina, com a cara de Maria, para propagar a violência no subsolo da cidade. O mesmo sequestra Maria, e a “nova Maria” a substitui logo em seguida, o que causa certa revolta entre os empregados. 


Com o incentivo da “nova Maria”, os trabalhadores acabaram por ignorar a repentina troca de atitude da moça e se juntaram, para destruir a principal máquina da parte inferior, o que afeta diretamente as duas partes da cidade. 

Como no livro de George Orwell, 1984, que foi publicado em 1949 como uma ficção incrivelmente futurista, onde ninguém conseguia escapar da observação do grande irmão, muitas dessas “coisas fictícias” se concretizaram. Diversos elementos nesse filme podem ser observadas atualmente: a primeira delas, em minha opinião, a desigualdade social. 

Em diversos lugares aqui no Brasil podemos observar o acúmulo da riqueza e da pobreza ao mesmo tempo. O fato de que a classe trabalhadora, tanto no filme quanto atualmente é a responsável pelo desenvolvimento do país está explicito, e algo que é incrivelmente comentado é que se todos se juntarem, algo pode ser feito. Em minha opinião, a rebelde atitude dos trabalhadores de se juntarem para fazer o “mal” [por uma boa causa] pode ser uma alusão a revolução francesa (quando a burguesia e proletariado se juntaram para derrubar a monarquia [matando-os], pois estavam em maior número, como os trabalhadores representados no filme).

Grande parte dos fatores ressaltados levam Metrópolisa ser um clássico do expressionismo alemão, pois em diversos momentos levam a outra interpretação do avanço tecnológico, como por exemplo quando os trabalhadores causam uma “enchente” no subsolo da cidade, comprometendo seus filhos e suas esposas, por conta das máquinas. 

Irão as máquinas algum dia ter mais poder que os humanos no mundo em que vivemos?

Uma curiosidade que pode ser interessante é que o próprio Hitler ficou impressionadíssimo com a magnificência do filme e convidou Fritz Lang a fazer filmes nazistas. Ele fugiu para Paris e começou a produzir filmes anti-nazistas, mas sua esposa na época, Thea von Harbou, que escreveu o romance que deu origem ao filme e adaptou-o para as telas junto com Fritz, entrou para o partido um ano após seu divórcio.  

Como não irei contar o desfecho do filme, termino meu texto recomendando o filme para todos os interessados e postando uma frase dita [pela verdadeira] Maria, “O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”.

Referências:

EISNER, Lotte H. A tela demoníaca: as influências de Max Reinhardt e do expressionismo. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 283p.

Metrópolis 1927. Disponível em  <http://metropolis1927.com/>. Acesso em 07 de junho de 2012. 

Metrópolis (Fritz Lang, 1928). Disponível em <http://multiplot.wordpress.com/2008/05/26/metropolis-fritz-lang-1928/>. Acesso em 07 de junho de 2012.

Créditos da imagem:

Galeria do filme Metrópolis. Disponível em <http://metropolis1927.com/#gallery>. Acesso em 07 de junho de 2012.

Comentários

Giulia Platt disse…
Bea, adorei o seu textoo! Fiquei com vontade ver esse file, Metropolis, não é? O professor de HST bem que podia passar na aula, hein?
Alias, tenho uma dica:
Aproveitando o nosso trabalho de GEO vc bem que podia fazer um texto sobre Violeta Parra, já que vc disse q gosta dela, né? Ou então um sobre a resistencia chilena e pq ela (Violeta) fez sucesso exatamente nessa época, o que vc acha?
Giulia
Anônimo disse…
por lesliane
nossa gostei do resumo, vc conseguiu exclarecer bem o filme que me deu até vontade de ver!
Anônimo disse…
Gostei muito!Parabéns!