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Notação musical como um idioma universal

Por Camila,

Olá leitores, neste texto vou mostrar de forma resumida a história do desenvolvimento da notação  musical, com o intuito de responder às seguintes perguntas: “Qual é a relação entre a notação musical e o mundo?”

A definição de música é muito subjetiva, portanto é difícil de explicar com precisão o significado da música em si. Porém Borges, 2003 explica: “A música inclui uma variedade de possibilidades de realização que vai do som, como matéria básica, à invenção de novas linguagens, a partir das sintaxes que organizam esses sons.” (BORGES, 2003) 

Nesse contexto, a música é a arte que tem como elemento principal o som, que é o resultado da aplicação de um sistema que representa o som em forma escrita, conhecido como notação musical. Antigamente, não existia uma escrita padronizada para registrar uma música, como é hoje em dia. Os registros musicais mais antigos, por exemplo, as escritas dos homens da caverna, que por meio de suas pinturas rupestres que expressavam as informações musicais de forma abstrata, ou seja, cada um interpretava a música do seu jeito (ARCELA, 2017), (FORNARI, 2019), (AVENTURA NA HISTÓRIA UOL, 2019,) (MELLO, 2011).

Notação musical

A notação musical é formada por um grupo de sinais e um sistema que explica a lógica e como esses sinais se relacionam entre si. Porém mais especificamente, a notação musical mais conhecida é a partitura. Nela consiste um conjunto de sinais gráficos que simbolizam sons musicais, possibilitando a leitura de um músico assemelhando-se  à ideia do compositor. 

Estas representações são através de sinais gráficos que abrangem figuras geométricas, linhas, pontos, curvas, grades e entre outros. Os sinais representam de forma  natural os sons da música (MARIANO, 2013).


Imagem 1: Notações musicais em diferentes partes do mundo



Exemplo de um elemento de notação musical

Sonata no. 5 in C minor Op.10 no.1 (Beethoven) - http://conquest.imslp.info/files/imglnks/usimg/4/43/IMSLP50957-PMLP106104-Op.10.pdf

Evolução da notação musical 

  • Nas pinturas rupestres

Ainda que não se tenha certeza absoluta como eram as músicas dos homens na pré-história, mesmo assim ainda pode ser analisada as pinturas rupestres. Em alguns casos pois parecem registrar um momento de dança, acredita-se que essa dança era acompanhada de música, conforme Picchi o homem pré-histórico imitava os sons que rodeavam que eram sons da natureza (PICCHI, 2008) (SOUSA, 2012).

  • No método cuneiforme (Egito e sumérios)

De acordo com Fornari, existem registros antigos das notações musicais. Esses registos foram grafados na forma de escrita cuneiforme (escrita que é produzida com o auxílio de objetos em formato de cunha) que eram usados na Mesopotâmia (atual Iraque), pelos Sumérios por volta do séc.XIV a.C. diferentemente das pinturas rupestres que eram grafadas de uma forma mais abstrata. Os sumérios e egípcios usavam a escrita mais concreta, pois todos entendiam da mesma forma. Na escrita cuneiforme ainda não tinham as notas musicais definidas, porém o entendiam da seguinte forma: marcavam as cordas de uma lira (instrumento musical) e a corda que estivesse marcada seria a qual o artista teria que tocar (AVENTURA NA HISTÓRIA UOL, 2019) (FORNARI, 2019) (ARCELA, 2017).

Imagem 2: Lira - Instrumento musical


  • Nas Neumas (Grécia X d.C)

Seguindo a cronologia musical, Sousa (2012) observou, que na mitologia grega a música tinha uma origem divina. Assim, os gregos foram os pioneiros a se preocuparem em registrar pela escrita e formalizar de forma mais arquitetada os conhecimentos da música e aperfeiçoando-a, além de descobrirem a teoria musical da época. Os gregos criaram um tipo de notação musical que chamavam de “neumas”, que consiste em símbolos que representam a direção em que o tom da nota vai, ou seja, se o símbolo estiver apontando para cima, indica que as notas irão subir para o agudo, e vice-versa. Cerca do ano 500 a.C foi considerado um sistema cuja lógica se perdeu no tempo (SOUSA, 2012) (ROCHA, 2020) (ARCELA, 2017).

De acordo com Mariano, as primeiras notações musicais não podiam ser lidas à primeira vista, pois eram apenas um auxílio à memória ou apenas uma consulta àqueles que já conheciam a melodia. Ainda antes de meados do século IX convencionou-se a colocação de sinais (neumas) acima das palavras, indicando uma linha melódica ascendente (/), uma linha descendente (\), ou uma combinação de ambas (/\) (MARIANO, 2013).

Imagem 3: Neumas 

Imagem retirada do trabalho de Sousa, pag. 51 (SOUSA, 2012)

Imagem 4: Neumas

As formas de escrever as notas foram se diferenciando, aperfeiçoadas e concretizadas no decorrer do tempo. No lado esquerdo da imagem seguinte, mostra a evolução das notas neumáticas do séc IX até o séc XIII, na direita mostra a correspondência dessas notas para o contemporâneo (ARCELA, 2017), (SOUSA, 2012).

Imagem 5: Correspondência de neumas para mensural e contemporâneo

Imagem retirada do Trabalho de Sousa, pag. 51 (SOUSA, 2012)

  • Criação das notas musicais (Guido d'Arezzo)       

Guido d’Arezzo (992-1050) foi um monge Benedito muito importante na evolução da notação musical. Com o hino “Ut Queant Laxis” que foi composto cerca de 200 anos antes, pelo  monge Benedito Paulo Diácono (720- 799), dedicado a São João Batista. Guido deu nomes às notas através do hino.

Guido d’Arezzo transcreveu o hino para o seu sistema de notação em quatro linhas (tetragrama), além de ter criado as notas musicais que conhecemos até hoje, com as primeiras sílabas de cada verso, a ordem ficou com a distância de uma escala maior, no caso conhecemos hoje como escala de Dó maior. Este foi o aprimoramento dos neumas com a colocação do tetragrama (ARCELA, 2017).

Imagem 6: Hino

Imagem retirada do https://cic.unb.br/~lcmm/mus/am1/a22/a22.html (ARCELA, 2017)

  • Notação mensural

Em série do século XIII, o compositor e teórico alemão Franco de Colônia fez um aperfeiçoamento na notação musical, sua ideia consistia em poder representar a duração e ritmo das notas, além de apresentar a altura da nota. Desde então foi estabelecida a ideia das notas rítmicas em que elas poderiam ser divididas em três cada uma delas Franco teve a ideia as três seguintes figuras, a Longa, a Breve e a Semibreve, cada uma tinha uma duração diferentes entre si e, quando combinadas, iniciava-se um ritmo para a música.

Este sistema ainda passou a ser completado com a ajuda do compositor e teórico francês Philippe de Vitry (1291-1361) que acrescentou ao sistema outras figuras de duração menores, a Mínima, a Semínima e a Fusa. Baseado na ideia de Franco, adotou para as durações a possibilidade de divisão em duas partes iguais, assim a Longa podia ser dividida em duas Breves.

  • Evolução gráfica de notação musical

 Segundo Sousa (2012), ao longo do tempo as diferentes claves foram mudando de forma até chegar a forma que conhecemos atualmente. Conforme as imagens retiradas do trabalho de Sousa, podemos ver a evolução das claves de Fá, Dó e Sol. 

Imagem 7: Evolução da Clave de Fá:

Imagem retirada do Trabalho de Sousa, pag. 90 (SOUSA, 2012)


Imagem 8: Evolução da Clave de Dó:

Imagem retirada do Trabalho de Sousa, pag. 90 (SOUSA, 2012)


Imagem 9: Evolução da Clave de Sol:

Imagem retirada do Trabalho de Sousa, pag. 91 (SOUSA, 2012)


  • Conclusão: por que a música é um idioma universal?

De acordo com as pesquisas realizadas, todas classificavam a música, principalmente a partitura como um idioma universal (na música). A princípio a música tem só um perfil de idioma, porque ela pode ser expressada de forma oral e escrita representadas por formas gráficas, e passa a expressão de sentimentos do compositor principalmente. Pode ser considerada universal, por exemplo, um compositor brasileiro compor uma música em partitura, um alemão consegue ler e entender, da  mesma forma para todos os países do mundo, porém, precisa ter os conhecimentos básicos, como a  teoria musical.

Neste post mostro geograficamente a história da notação musical. As primeiras representações de notação musical foram através das pinturas rupestres, mas o seu sistema era abstrato. Depois foi encontrado também no atual Iraque, onde era a Mesopotâmia, no sistema cuneiforme feito pelos sumérios e egípcios. E agora o sistema criado pelos gregos, os neumas, que consiste em símbolos que indicam a altura das notas, aliás, as notas não tinham nomes ainda, e quem conseguiu nomear as notas foi Guido d’Arezzo.

          Durante o processo de aprendizagem dos conhecimentos musicais, ocorre uma indução  a usar todos os lados do cérebro, o que o faz se exercitar para poder entender o que a partitura está mostrando, além de toda a matemática, física, história e arte que tem por trás, tanto da leitura quanto da composição. A teoria musical é rica em conhecimentos favoráveis ao dia-a-dia, desta forma pessoas que estudam a teoria musical paralelamente com os estudos acadêmicos mostram maior desenvolvimento na lógica, no raciocínio e na compreensão da matéria (WEIGSDING; BARBOSA, 2015). É muito gratificante, para a escritora deste post, estudar esse conteúdo da música.


Referências 

ARCELA, Aluizio. Escrita musical. In: NOTAS de aula. 0.15. ed. Brasília: Universidade de Brasília, 2017. cap. 21. Disponível em: https://cic.unb.br/~lcmm/mus/am1/index.html. Acesso em: 31 out. 2021.

AVENTURA NA HISTÓRIA (Brasil). COMO FAZÍAMOS SEM PARTITURAS?: Quem sabia tocava de ouvido! Antes das partituras com as quais estamos tão acostumados, todo mundo fazia ao vivo. [S. l.], 2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/como-faziamos-sem-partituras.phtml. Acesso em: 29 out. 2021. (AVENTURA NA HISTÓRIA UOL, 2019)

BORGES, Cândida. MÚSICA, TEMPO E OUTROS CONCEITOS... MÚSICA, TEMPO E OUTROS CONCEITOS. 2003. Projeto experimental (Pós graduação) - Faculdade de musica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, [S. l.], 2003. Disponível em: https://ocodigomusical.files.wordpress.com/2010/04/musica-tempo-e-outros-conceitos.pdf. Acesso em: 30 out. 2021. (BORGES, 2003)

Fornari, José . “A representação da música em notação”. Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas. ISSN 2526-6187. Data da publicação: 16 de janeiro de 2019. Link: https://www.blogs.unicamp.br/musicologia/2019/01/16/3/

MARIANO, Sara Maria Britto. A estruturação de notações na iconografia, música, dança e escrita como base para a reflexão acerca dos códigos escriturais no teatro. Orientador: Veloso, Jorge das Graças. 2013. 132 p. Dissertação (Pos-Graduação) - Artes da Universidade de Brasília, [S. l.], 2013. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/14282/1/2013_SaraMariaBrittoMariano.pdf. Acesso em: 30 out. 2021.

MELLO, Fabio. Notação Musical: Origem e Desenvolvimento I. História da Música, [s. l.], 28 jul. 2011. Disponível em: http://historiadamusica2011.blogspot.com/2011/07/notacao-musical-origem-e.html. Acesso em: 29 out. 2021. (Mello, 2011)

PICCHI, Achille Guido. A música e os inícios do homem. Mimesis, Bauru, v. 29, n. 2, p. 43-48, 2008. (PICCHI, 2008)

ROCHA, Roosevelt. O SISTEMA DE NOTAÇÃO MUSICAL NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: UMA INTRODUÇÃO. 2020. Dossiê (Graduação) - Departamento de Polonês, Alemão e Letras Clássicas, Universidade Federal do Paraná., [S. l.], 2020. (Rocha, 2020)

SOUSA, Maria N. V. A Evolução da Notação Musical do Ocidente na História do Livro até à Invenção da Imprensa. Orientador: Pereira, Reina Marisol Troca. 2012. 49-57 p. Dissertação final (Mestrado em ciências documentais) - Artes e Letras, Universidade da Beira Interior, [S. l.], 2012. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.6/3407. Acesso em: 7 out. 2021. (SOUSA, 2012)

WEIGSDING, Jessica Adriane; BARBOSA, Carmem Patrícia. A influência da música no comportamento humano. Arquivos do MUDI, [s. l.], v. 18, ed. 2, p. 47-62, 22 jan. 2015.



Créditos das Imagens:

imagem 1 - Imagem autoral com imagens: https://br.freepik.com/ 

imagem 2 -  https://www.flickr.com/photos/fdctsevilla/4031749500

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imagem 5 - 

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imagem 6 - https://cic.unb.br/~lcmm/mus/am1/a22/a22.html

imagem 7 - 

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imagem 8 - 

https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/3407/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20final%20-%20Maria%20Sousa.pdf

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Comentários

João C S F disse…
Olá! Parabéns pela escolha do tema. Gosto de ouvir músicas de diferentes partes do mundo. Dentre os demais temas, esse foi com o qual mais me identifiquei.
Eduarda Góes disse…
Oii, Camila!
Eu gostei muito do seu blog, me identifiquei muito com ele e aprendi várias coisas que eu não sabia sobre esse tema, que tanto me interessa, mas que eu nunca havia parado parado para pensar ou para pesquisar.
Ficou bem completo e bem explicado, eu amei!!

Maria Eduarda Lins Góes, 9°C