Pés na Estrada: um jeito de viver (n)a Escola

Há vinte anos pensar uma outra relação com o saber tem sido uma constante para professores e professoras do Pés na Estrada, do Colégio de Aplicação da UFSC.

Há vinte anos colocamos literalmente os pés na estrada para não mais parar de caminhar, de construir, de problematizar, de criar, de pensar que um outro mundo é possível: mais solidário, mais justo, mais amoroso...

O início: roda de conversa em 1999 entre docentes do Colégio de Aplicação e da Escola 25 de Maio dos Assentamentos União da Vitória e Vitória da Conquista do MST - Fraiburgo (SC).

O projeto, hoje nominado “Pés na Estrada do Conhecimento – Iniciação Científica na Escola”, em sua prática, procura propor um olhar diferenciado sobre o trabalho em sala de aula, enquanto ambiente de pesquisa e construção do conhecimento, sintonizado com as múltiplas questões da realidade que cercam os estudantes, na expectativa do fortalecimento de uma consciência crítica e cidadã.

Neste cenário, as investigações de iniciação científica têm assento privilegiado, por reunir componentes pedagógicos que estimulam aprendizagens e auxiliam no desenvolvimento de habilidades cognitivas essenciais na formação crítica, cidadã e reflexiva. Aprender a ler, a escrever, a analisar, a responder, a debater e a propor são alguns aspectos que podemos considerar quando estimulamos o gosto pela busca do conhecimento.

Ao problematizarmos o papel da escola enquanto espaço do exercício da autoria, enfatizamos a formação do sujeito autor na relação com a constituição de estudantes que se percebam enquanto sujeitos sócio-históricos. Aprofundamos, dessa forma, o debate sobre o sujeito que queremos formar, pois não podemos deixar de considerar que este possui uma história e produz sentido sobre o mundo em que vive. Este sujeito presente no mundo é capaz de fazer leituras ao assumir uma posição problematizadora diante da realidade, através da linguagem.

Lago da UHE Itá, Sarandi ( Aratiba-RS)

Assim, ao longo de vinte anos, muito caminhos trilhamos pelo estado de Santa Catarina, onde pisamos em assentamentos rurais, espaços de materialização da luta pela posse da terra. Os assentamentos União da Vitória e Vitória da Conquista, em Fraiburgo, no Meio Oeste catarinense, e neles a escola 25 de Maio, marcaram os primeiros onze anos de estrada do Projeto.

Ainda com foco na posse da terra, conhecemos parte da realidade de mulheres e homens de Itá (Oeste catarinense) e Aratiba (Norte gaúcho), atingidos por barragens. Quantas histórias cobertas pelas águas. Outras cidades também foram paradas obrigatórias para reflexão: Rio Fortuna (SC) Abdon Batista (SC), Capinzal (SC), Erechim (RS) e Foz do Iguaçu (PR).

Chafariz São José de Botas - Tiradentes-MG

Um pouco mais distante, a estrada do conhecimento nos leva para algumas cidades de Minas Gerais: Outro Preto, Mariana, São João del-Rei, Tiradentes, Congonhas do Campo, Brumadinho e Belo Horizonte. Conhecer aspectos da história, da geografia e da cultura do nosso país vem construindo ao longo dos anos estudantes e docentes mais sensíveis ao diferente, reflexivos em relação as mudanças e permanências próprias das sociedades humanas.